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Pelotas, RS, Brazil
Atriz, aventurando em produções artísticas independentes e dependentes. Bacharel em Interpretação Teatral (UFSM). Professora de Séries Iniciais (Magistério). Gestora Geral do Teatro do Chapéu Azul - Realizações culturais. Idealizadora do PIQUENIQUE CULTURAL e do FESTIVAL DE INVERNO DE PELOTAS. Há também o CENARUA - festival de Artes Cênicas na Rua em parceria com a Dalida Artísticas Produções.Estudou Desenho Industrial e Vestuário - não se formou, mas aprendeu bastante. Aprendiz de cartomancia, astrologia, numerologia e algumas outras "ias". Fala demais. Ri e chora quando necessário. Não se conforma com algumas coisas no mundo. Já tentou se envolver em política, religião e futebol. Cozinha bem. Gosta de beijos longos e abraços quentes. Nunca saiu do Brasil, mas quer dar umas voltinhas. Pouco saiu do RS. Morou 9 anos em Santa Maria/RS. Gosta de escrever e cantar. É filha única. O ócio a interessa também.

quinta-feira, 13 de março de 2008

A cigana leu o meu destino

Quando eu era criança, sempre quis desfilar em uma escola de samba. Minha mãe nunca deixou, acho que com medo que algum mascarado me carregasse no fim do desfile... Nunca ouvi um caso desses, mas mãe que é mãe acha que todos sempre estão mascarados quando estão perto dos seus filhos... Isso vale até hoje...
Mas sempre amei toda a movimentação, o brilho, a festa em si. Sempre freqüentei quadra, desfile, ensaio, batuques em geral.
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Não me venham falar em ópio do povo às avessas.
Sim, está deturpado. Sim, perdeu muito de seu brilho, do que seria o “popular” de verdade. Mas o que der para salvar, salvemos. Porque ainda dá tempo. Ainda é tempo. E se pensarmos bem, ainda tem muito do que era...
Já leu Cultura popular na Idade Média e no Renascimento, do Bakhtin?. Vale a pena. E dá pra se ter uma idéia do que ainda sobrou daquilo tudo. Uma abordagem mais precisa do papel do carnaval na sociedade brasileira é Carnavais, malandros e heróis, do Roberto da Matta. A discussão é mais próxima da nossa realidade.

Obviamente que o Carnaval não surgiu na Idade Média e muito menos no Brasil do século XIX ou XX.

É preciso levar em conta as manifestações anteriores ao cristianismo existentes em várias partes do mundo, todas ligadas ao aspecto fundamental da existência humana: viver e viver bem. Comer e beber. Procriar. Renovar-se. Ter prazer depois do trabalho duro. E desse prazer tirar forças para recomeçar o trabalho. Para de novo poder parar de trabalhar e agradecer aos deuses comendo, bebendo e trepando muito. Basicamente isso... É que essa é uma história tão grande que eu deveria criar um brog só para discuti-la - se fosse o caso, mas não é.

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De qualquer forma, falar do carnaval me deixou feliz e motivada, ouvindo lá no fundo de mim duas músicas que se completam e que fazem parte da minha história carnavalesca: É hoje e O amanhã.



terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A morte do cão

Hoje eu vi aquele episódio de Os Simpsons: Cão de Morte (nº 54, 3ª temporada).

Nele, o Ajudante de Papai Noel, cachorro dos Simpsons, fica doente e necessita de uma cirurgia cara.
Para pagar o tratamento, cada membro da família economiza em algumas coisas. A cirurgia é feita e o cachorro fica curado.
No entanto, todos os Simpsons sofreram algum tipo de dano devido às economias feitas. Quando o cachorro volta para casa, eles estão com raiva por causa disso e deixam de dar atenção a ele.

Numa noite, ninguém fecha o portão, mesmo sabendo que o Ajudante do Papai Noel pode fugir.
E ele foge.
(Essa sequência é ótima, pois aparece o cachorro por entre bosques, salvando crianças de incêndios, atravessando rios, trepando, matando um urso. Ou seja, ele vive mil aventuras)
Depois de certo tempo ele é capturado pela carrocinha de Springfield.
O Sr. Burns, que queria substituir um de seus cães de guarda ferozes, escolhe o Ajudante do Papai Noel para ser seu novo cachorro. Mas o cachorro não é nem um pouco feroz. Sr. Burns parte para uma lavagem cerebral, tornando-o um sanguinário.
Com a fuga do cachorro, os Simpsons se dão conta da falta que ele faz na família e decidem procurá-lo.
Bart resolve bater em todas as portas atrás do Ajudante. Ao chegar a casa do Sr. Burns, Bart dá de cara com seu cachorro. Mas ele está mudado e vem correndo com os olhos de monstro pra cima de seu antigo dono.
Nesse instante, Bart está apavorado e grita, olhando fundo nos olhos feios do cão: O que é isso, cara, eu te amo!
Aí vem a parte mais tri do filme! A sequência de lembranças do cachorro em relação a Bart é maravilhosa: Bart dando comida a ele por debaixo da mesa, andando de skate com ele amarrado pelo pescoço acompanhando...
Por fim, o cachorro volta pra casa e é tratado como um rei.
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Tá, eu sou uma besta mesmo, mas chorei vendo esse episódio - só eu mesmo...
Mas não é bem assim...
Eu também tive um Ajudante de Papai Noel. Chamava-se Linda.
E era linda mesmo! Viveu quase 15 anos e sua morte foi como se um buraco negro se abrisse na minha frente. Só me conformei porque ela estava velhinha. O ápice de sua doença cancerígena foi terrível. Em um mês ela definhou e na sua última noite ficava parada em frente a uma parede olhando pro nada. Dramático.
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Eu ainda morava em Pelotas. Eu tinha 16 anos e ela, 4. Um dia cheguei em casa depois das aulas ( sim, eu freqüentava aulas nessa época, dois cursos, estudava manhã, tarde e noite - por isso hoje eu me vingo...). Minha mãe havia dado a Linda. Tive um troço. Chorava desesperada. Afinal, minha mãe deixou bem claro que aquilo era resultado da minha negligência com o bicho - talvez ela tivesse razão, dessa parte não lembro bem, hehehe...

Minha mãe me disse que havia dado o bicho pra um feirante que havia estado na minha rua naquele dia.
Não tive dúvida! Era uma segunda-feira. Na terça, me acordei às 5 da matina e liguei numa rádio AM que dava o itinerário das feiras livres daquele dia. Anotei tudo e parti, de bicicleta, atrás dos feirantes que haviam estado na minha rua no dia anterior.
Resumo: logo encontrei os feirantes que eu procurava, mas um deles havia faltado naquele dia. Sem problemas. Quarta-feira lá estava eu para falar com o homem, do outro lado da cidade.
Não, ele não tinha levado cachorro nenhum. E eu chorei mais ainda. Na frente do cara, no ônibus de volta pra casa, na frente das minhas colegas, das professoras, do mundo inteiro, enfim.

Minha mãe, irredutível, só vendo meu sofrimento.
Tanto infernizei que ela abriu o jogo: havia dado a Linda pra um acompanhante de uma criança doente do hospital onde ela trabalhava. Ela tinha algumas informações sobre o endereço do cara.
No outro dia, fomos atrás - ela também estava com saudades.
Resumo: não encontramos. E olha que eu gritei na rua, bati em casas... NADA!
Voltei desalmada. Um buraco no peito, no cérebro, no cu, em tudo. Eu era um buraco ambulante.
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Passou-se um mês mais ou menos. Lembranças, choros e velas e nada da cadela...

Estou eu bem bela na janela do meu apartamento quando passa um mandinho vizinho meu. Ele grita:
- Ô Aline, o que a Linda tá fazendo lá no Obelisco?
Quase caí dura, quase voei pela janela, não conseguia raciocinar. Obelisco era o bairro onde eu a havia procurado sem sucesso.

Munida de uma mochila, uma lista telefônica com um mapa, comida, boné e tudo mais, parti em busca da cadela. O guri me deu o lugar certinho onde ela estava.
Fui de ônibus (dois), mas teria que voltar a pé com ela. Era longe, mas dava.
Cheguei no lugar, meu coração saltando pela boca. Gritei, gritei chamando e NADA! O lugar descrito pelo piá conferia. Cadê ela?

De repente, eu já quase desistindo... Ela aparece, num pátio. Quando nos vimos - eu nunca vou esquecer - foi mágico. Eu já comecei a chorar na hora, me agarrando no bicho por entre as grades.
Quando a dona da casa apareceu deve ter pensado que eu era uma louca. Chorando compulsivamente, me agarrava no pescoço da cadela.
A mulher ficou assustada. Eu só dizia: Vim buscar minha cachorra.
Nem perguntava nada pra mulher: era ELA e ela era minha e eu dela e pronto!
A mulher rapidamente concordou em me devolver a cachorra. E eu me fui, feliz. Eu voei!

Aí vinha o problema: atravessar a cidade com o bicho. Mas eu carregaria ela nas costas se ela se cansasse. Não estava nem aí pra nada. Não havia empecilho nenhum. Só felicidade e um coração sorrindo!
Só que o sol estava forte. Os lugares por onde eu passaria para cortar caminho não eram muito aconselháveis pra uma adolescente (mesmo protegida por seu cão)... Mas a gente foi.

No meio de uma estrada praticamente deserta, passa um FIAT 147. Não tive dúvidas: pedi carona. Pararam. Era um casal representante de vendas. Vendiam papel de seda e fumo nos butecos das vilas em volta. Contei minha história, eles se comoveram e lá fomos nós, eu e a Linda, no banco de trás do carro. Passei por, no mínimo, 20 butecos. Butecos mesmo. Tábua e chão batido, casebres.
Como eles iam pro meu bairro, estava tudo certo.
Depois de umas quatro horas sacolejando no 147, finalmente chegamos.
Melhor: no bar que ficava embaixo do meu apartamento (eu morava numa Cohab, a pior da cidade, o temido Pestano - hehehe).
Quando minha mãe chegou do serviço também chorou de alegria. E me agradeceu.
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Vivemos felizes, as três, até eu vir pra Santa Maria, em 2000.
Em 2005 minha mãe veio morar aqui também e eu pude aproveitar por uns dois anos o amor sincero da Linda.

Às vezes sonho com ela. Nesses sonhos eu a abraço bastante e, mesmo sabendo que ela está morta, chego a sentir seus pêlos pretos roçando em mim. E, nesses sonhos, eu sou feliz de novo.
Depois eu choro um pouquinho.
Mas não muito, porque, como diz a Marge no desenho: Existe o céu dos cachorros.

Eu ando fazendo umas cachorradas pra ver se vou pra lá um dia.
Mas - como não tenho pressa - no dia de sua passagem pro céu dos cachorros, cortei uns pêlos pretos para uma eventual clonagem.

Linda aos 14 anos, vivendo em Santa Maria.



PS. Eu avisei que falava pra caralho!

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Ô abre-alas

Sim, recém hoje criei coragem para divulgar realmente o meu brog. Ou seja, abri-lo aos demais. Publicar no orkut, por exemplo.

(Usarei o termo "brog" ao invés de "blog". Para dar um tom mais caipira, mais brasileiro mesmo. Que bobagem...)

Já haviam me dito que ter um brog era ter um carrasco no seu pé todo o tempo. Achei um exagero. De certa forma, consigo compreender agora o que isso quer dizer.
Já expus aqui minhas inseguranças em relação ao "que" e ao "como" escrever aqui.
Mandei todas às favas.

Minhas listas estão incompletas: links, discos, livros... Tudo em construção.





Vou indo... Construindo e destruindo. Escrevo, apago, me torturo por não saber mexer direito nisso ainda...

sábado, 16 de fevereiro de 2008

O ursinho carinhoso que não comia batata frita

Eu não entendo nada de música estrangeira. E, a bem da verdade, não procuro entender. Nunca pergunto nome de banda ou cantor. Não sei quem está fazendo sucesso atualmente. Não sei nada.
Essa falta de interesse talvez seja reflexo da minha formação musical.

Devo muito dela a minha tia-madrinha. Durante toda a infância ouvi muita música brasileira: Maria Bethânia, Roberto Carlos, Nelson Gonçalves, Chico Buarque, Gil, Caetano Veloso e mais uma porrada de gente legal... Muito chorinho, samba, violão e dor-de-cotovelo.

Tudo isso é muito lindo, mas não posso deixar de registrar aqui o disco que mais povoou minha imaginação infantil. É um disco de Jair Rodrigues, com regravações maravilhosas. Chama-se Carinhoso - As mais belas canções românticas brasileiras (1983). Era da minha tia. Quando ela foi pra São Paulo, há 20 anos, levou consigo. Há uns dois anos achei um vinil num sebo. Custou R$ 2,00. Baratíssimo, embora nem todo o dinheiro do mundo pudesse pagar o que ele significou na minha vida. É um disco muito bacana! O encarte com as letras das músicas é um caso de amor a parte. Abaixo de cada título, um breve resumo da história daquela música.

Bem, todo esse blablablá em torno do tal disco é que com ele conheci músicas maravilhosas que tenho prazer de ouvir e cantar até hoje - como a canção-título, Carinhoso. Vingança, Canção de amor, Cadeira Vazia, Cabelos Brancos, Molambo, Último desejo... são eternos exemplos de música boa. No entanto, a mais-mais pra mim era, na época, Ronda.

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Quando eu tinha uns cinco anos, minha mãe costumava ir a uma lancheria que tinha música ao vivo. Lá, imagino eu, reunia-se quem deixava o trabalho no fim da tarde.

E dê-lhe teclado! O pessoal conversava e o cara se estribuchava cantando sucessos populares da época (tipo o que tocava no rádio mesmo, nada experimental ou virtuosístico pelo que me lembro). E o que eu fazia lá? Bem, minha mãe é solteira. E ali era o lugar apropriado para conhecer outras pessoas e bater papo com os amigos. Eu tinha que ir junto, pois ela me buscava no colégio e não tinha com quem me deixar. Era um bar familiar, eu conhecia todo mundo, conversava em todas as mesas, totalmente enturmada...

Lembro do dia que o cantor disse: "Esta eu vou oferecer pra uma amiguinha minha que me acompanha em todas as músicas!" (Eu ficava cantando lá da mesa...) e tascou Superfantástico, do Balão Mágico, um mega sucesso do momento.

Não deu outra, fui lá no cara e pedi pra cantar também, no microfone, claro. A música que eu escolhi foi "Ronda". A partir desse dia, cantava sempre. E só esse tipo de música, música de adulto mesmo, principalmente as dos discos que eu tinha em casa.

Comi muita batata frita às custas dos bebuns que achavam a coisa mais linda um toco de gente cantando "cena de sangue num bar da avenida São João". Eu adorava tudo aquilo, conversava com todo mundo, passeava por tudo lá dentro.

Até aí, tudo bem. Música velha era comigo mesmo, o pessoal pedia e eu cantava, tinha gente que ia no bar só pra me ver. Verdade!

Tudo mudou quando resolvi ampliar meu repertório, incluindo um clássico do Balão Mágico: Ursinho Pimpão. Estava lá, microfone na mão, a platéia me olhando e então, pra surpresa de todo mundo... esqueci a porra da letra da música.


Nunca mais cantei em público na vida!

Nunca mais esqueci como me senti naquele momento!

Nunca mais comi batata frita de graça!


PS: Fiquei triste por não ter conseguido as gravações do próprio Jair, mas continuarei procurando e edito na sequência, se for o caso.
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Pra começar a entender:
Pra ouvir:

Não diga que não avisei

Faz quase um ano que criei este brog.
Nunca publicava nada, protelando ao máximo o dia que teria coragem suficiente para oferecer meus rascunhos à apreciação pública.
Sempre achei que ninguém teria interesse de ler qualquer coisa que viesse a declarar aqui.
Ainda assim, caso alguém lesse, receava ser linchada pública ou virtualmente. Ou pior: criar um séquito de seguidores que não me dariam paz nem para ir ao banheiro. (Isso é que é se achar importante!)

Enfim, resolvi começar a abrir meu baú - que às vezes parece mais um papa-entulho. Nele eu não encontrei nenhuma verdade imutável. Nada de definitivo. Vou me permitir divagar sobre o que quiser, quando e pelo motivo que me interessar... Sim, nada de utilidade pública, não: apenas satisfação pessoal.

Se gostas de cachorros, poesias, teatro, dor-de-cotovelo, música brasileira, filmes bestas, livros, novela, gibi, quadrinhos, grandes personalidades da história mundial, sexo selvagem, samba, gays, brinquedos, cerveja, pintura, cultura de massa, tias, vinis, calendários, moedas antigas, televisão, festas, renúncias, incêndios, croquetes... Talvez eu escreva sobre isso um dia. Também posso fazer fofocas, destruir famílias ou simplesmente te fazer chorar por não ter uma versão impressa de tudo isso para usar no momento adequado após uma breve relaxada no banheiro mais próximo.

Pode ser que só escreva coisas que não interessem a ninguém (talvez nem a mim mesma): em outras palavras, só escreva merda mesmo... Ou desenvolva um novo método de interpretação de mundo que revolucionará a ciência, a filosofia, a antropologia, a tecnologia, a arte, a psicologia, a psiquiatria, a teologia e a culinária! E por isso receba um prêmio milionário!


Aí poderei pagar um profissional extremamente especializado em ouvir blablablá de perturbados mentais e chatos de todo o tipo.
Se isso acontecer - o que acho muito difícil - prometo parar de escrever aqui e ficar enchendo os ouvidos da tal criatura com qualquer balela que eu ache que valha a pena. Até acabar com cada centavo da minha grana.
É que eu falo pra caralho!