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Pelotas, RS, Brazil
Atriz, aventurando em produções artísticas independentes e dependentes. Bacharel em Interpretação Teatral (UFSM). Professora de Séries Iniciais (Magistério). Gestora Geral do Teatro do Chapéu Azul - Realizações culturais. Idealizadora do PIQUENIQUE CULTURAL e do FESTIVAL DE INVERNO DE PELOTAS. Há também o CENARUA - festival de Artes Cênicas na Rua em parceria com a Dalida Artísticas Produções.Estudou Desenho Industrial e Vestuário - não se formou, mas aprendeu bastante. Aprendiz de cartomancia, astrologia, numerologia e algumas outras "ias". Fala demais. Ri e chora quando necessário. Não se conforma com algumas coisas no mundo. Já tentou se envolver em política, religião e futebol. Cozinha bem. Gosta de beijos longos e abraços quentes. Nunca saiu do Brasil, mas quer dar umas voltinhas. Pouco saiu do RS. Morou 9 anos em Santa Maria/RS. Gosta de escrever e cantar. É filha única. O ócio a interessa também.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Poemas para amores esquecidos

ÓBVIO
(2000)
Para C.

Deixa de lado
Toda a problemática
Existencial
E não te abala
Com o óbvio.
Deixa que ele seja
Cada vez mais
Claro
E que eu
- sombra -
Vire luz
Deixa que o óbvio
Se estabeleça
E cresça
Com a intensidade
que o inevitável
Deve ter.

***

CARÍCIA
(2000)
Para C.

Acaricio teu nome
Nas folhas de papel.
Então, te escrevo,
te procuro...
Letra a letra
te gosto mais.
Acaricio teu rosto,
tua boca, tuas mãos,
teus cabelos...
És todo meu
quando escrevo
teu nome...
Rabisco novamente...
Deixo a caneta deslizar
(ela já sabe o que fazer!)
Vou acariciar teu nome
até clarear o dia.

***

LIMITES
(2001)
Para C.

E o que restou
Se nada se deu
Além dos limites
De uma manhã
Gelada e apagada
Pelo delírio de não se saber ou querer
Relacionar almas,
Mas somente corpos?

***

RESSURREIÇÃO
(2006)
Para R.

Por que morro nos teus olhos
Se só eles me ressuscitam?

***

EMBORA QUISESSE FICAR
(2007)
Para R.

Eu ficaria mais um pouco.
Mais uma hora.
Mais um dia.

Mas eu me fui.
Feliz, até. Feliz.
Sem pensar em nada
Além do que pensei
Durante todo o dia
e também em outros
e outros antes dele.

Eu me fui, eu voei
Pra qualquer lugar que
me impedisse de voltar,
pedir ou gritar.

Sempre falta alguma coisa.

Ah, gentes que não sossegam!

***

(2009)
Para R.

Há qualquer coisa
nesse olho
nessa mão,
nesse toque
Qualquer coisa
que grita
coisas
Inaudivelmente
Gritantes.

Há no teu silêncio
O grito inaudível
Dos que
não se permitem
Qualquer coisa
que expresse
Qualquer coisa.

e não diga que não
Nessa boca
apertada
A frase calada
Que quer expulsar
Ou trazer pra si.

Coisa indecisa
E imprecisa
O silêncio
O olho vago
A mão inquieta
Há.

Outrora...



O que está escrito abaixo faz parte da leva de 2006, ano duro. É mais ou menos auto-biográfico. Excluindo os telhados, acho que seria totalmente...
Aí esses dias um cara leu e disse que era bom. E talvez seja mesmo, porque foi até publicado...
Enfim, um dia a vida foi mais ou menos assim...


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UMA NOITE QUALQUER IGUAL A TANTAS OUTRAS

Chovia. E enquanto a chuva deslizava pelos vidros de sua estreita janela, podia ver o que não queria. Os trovões, por mais altos e assustadores que pudessem ser, não podiam abafar o som de sua alma gritando palavras desconexas. Um amor que não se concretizou e nunca se concretizaria. Seu peito se encheu de sangue. Suas mãos choraram suor. Estava louca. Apaixonada. Encurralada.

A chuva doía nos ouvidos. O amor doía no coração. Havia em si não mais um ser vivente, mas um eterno cadáver a rastejar e latejar, inconseqüente. Atirou-se pela rua, clamando ser socorrida. Mas o que lhe ofereceram foi desprezo:
- Descontrolada.

Apoiou silenciosamente os que sobem em telhados e gritam o amor profundo como ridículos oitocentistas - até mesmo pensou em se unir a alguns deles, caso os encontrasse. Mas a chuva não deixava ninguém ir ao telhado naquela madrugada eterna.

Baixou o nível: pediu a Deus. Já não havia o que desejar. O coração gemeu. Um gemido que inundava seu interior e não deixava espaço para qualquer outro pensamento.

Inspirada não sabe em quem, cantou uma música fúnebre. Já não havia esperança com a qual pudesse tentar pensar em ver uma luz qualquer... A chuva tapava qualquer brecha. A chuva que caía na rua. A chuva que caía por dentro.

Bebeu. Chorou mais que as nuvens. Ridícula. Ainda tentou entender porquê fez tudo errado. Porquê fez com que pensasse que ela não era ela e sim uma pessoa que não queria ser amada.

Agora, arrancando os cabelos enquanto vomita e chora diante do espelho, percebe a burrice que cometeu desde o primeiro dia que o viu. E não consegue esquecer e se perdoar. Talvez nunca consiga. Pensa nisso e lava o rosto. Bebe o último e decisivo gole.

Quando acorda no outro dia, o travesseiro molhado. Não sabe se é baba, choro ou a chuva. Só sabe uma coisa: é dor. E das mais doídas.