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Pelotas, RS, Brazil
Atriz, aventurando em produções artísticas independentes e dependentes. Bacharel em Interpretação Teatral (UFSM). Professora de Séries Iniciais (Magistério). Gestora Geral do Teatro do Chapéu Azul - Realizações culturais. Idealizadora do PIQUENIQUE CULTURAL e do FESTIVAL DE INVERNO DE PELOTAS. Há também o CENARUA - festival de Artes Cênicas na Rua em parceria com a Dalida Artísticas Produções.Estudou Desenho Industrial e Vestuário - não se formou, mas aprendeu bastante. Aprendiz de cartomancia, astrologia, numerologia e algumas outras "ias". Fala demais. Ri e chora quando necessário. Não se conforma com algumas coisas no mundo. Já tentou se envolver em política, religião e futebol. Cozinha bem. Gosta de beijos longos e abraços quentes. Nunca saiu do Brasil, mas quer dar umas voltinhas. Pouco saiu do RS. Morou 9 anos em Santa Maria/RS. Gosta de escrever e cantar. É filha única. O ócio a interessa também.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Trapiche

Ela estava lá. O cabelo rebolando no vento forte do inverno. Esperava por ele havia alguns anos. Digo: naquela manhã a espera durava apenas alguns minutos, mas já há alguns anos, quase todos os dias esperava na ponta do trapiche.  Invadindo a lagoa, esperava por ele e por seus cabelos que iam diminuindo de exuberância e volume a cada dia. Não se importava com isso.
Ele e seus passos lentos. Como aquele homem que andava sobre as águas, andava ele também. Sobre uma planície de madeira, a seu modo, ele também andava sobra as águas. E a via, de costas, cabelos rebolantes. Próximo dela se sentia mais ele. Ela lhe permitia isso.
Ainda sem o olhar, mas percebendo sua presença, ela disse e sua voz assobiou como o vento frio:
-Queria ser um peixe.
Ele não pode deixar de lembrar de uma música popular qualquer  que também dizia isso. Riu-se:
-Por que dizes isso?
-Peixes não amam.
Aproximou-se por trás e enlaçou seus ombros em um abraço.
- Como sabes?
- Sei lá.
E virou-se. Olharam-se.
- Pra mim, és uma sereia.
- Sereias não existem.
Sorriu. Ele viu um sorriso triste. Anos a fio, amor feito às pressas, sobre as tábuas geladas, chuva ou sol, ali estavam todas as manhãs. Pela manhã era mais fácil disfarçar. Agora isso já não bastava. Faltavam os passeios entre os outros, o título de propriedade, a prole.
- Não importa, és minha sereia.
Tentou com isso desviar a atenção dela, que, já de costas novamente, olhava a lagoa que vomitava gotas em seus pés. As tábuas molhadas apodrecendo lentamente, assim como ela.
Desvenciliou-se repentina, porém lentamente. Tirou o casaco.
-Segura.
Ele não entendeu, o frio era grande, cortava. Ela, sem nada por baixo, dorso nu. Deixou uma pesada saia de veludo negro deslizar.
- Estás louca?
Pulou. A água gemeu.
-Se me amas como dizes, pula!
Apressado, ele tirou a roupa, muitas roupas e atirou-se.
Desapareceram.  A lagoa que tantas vezes presenciou o amor apressado os acolheu em suas águas frias.
O carro permaneceu estacionado a alguns metros da orla. As roupas espalhadas quase na ponta do trapiche, quase dentro da lagoa, mas acima dela.
Corpos nunca encontrados.

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