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Pelotas, RS, Brazil
Atriz, aventurando em produções artísticas independentes e dependentes. Bacharel em Interpretação Teatral (UFSM). Professora de Séries Iniciais (Magistério). Gestora Geral do Teatro do Chapéu Azul - Realizações culturais. Idealizadora do PIQUENIQUE CULTURAL e do FESTIVAL DE INVERNO DE PELOTAS. Há também o CENARUA - festival de Artes Cênicas na Rua em parceria com a Dalida Artísticas Produções.Estudou Desenho Industrial e Vestuário - não se formou, mas aprendeu bastante. Aprendiz de cartomancia, astrologia, numerologia e algumas outras "ias". Fala demais. Ri e chora quando necessário. Não se conforma com algumas coisas no mundo. Já tentou se envolver em política, religião e futebol. Cozinha bem. Gosta de beijos longos e abraços quentes. Nunca saiu do Brasil, mas quer dar umas voltinhas. Pouco saiu do RS. Morou 9 anos em Santa Maria/RS. Gosta de escrever e cantar. É filha única. O ócio a interessa também.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Outrora...



O que está escrito abaixo faz parte da leva de 2006, ano duro. É mais ou menos auto-biográfico. Excluindo os telhados, acho que seria totalmente...
Aí esses dias um cara leu e disse que era bom. E talvez seja mesmo, porque foi até publicado...
Enfim, um dia a vida foi mais ou menos assim...


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UMA NOITE QUALQUER IGUAL A TANTAS OUTRAS

Chovia. E enquanto a chuva deslizava pelos vidros de sua estreita janela, podia ver o que não queria. Os trovões, por mais altos e assustadores que pudessem ser, não podiam abafar o som de sua alma gritando palavras desconexas. Um amor que não se concretizou e nunca se concretizaria. Seu peito se encheu de sangue. Suas mãos choraram suor. Estava louca. Apaixonada. Encurralada.

A chuva doía nos ouvidos. O amor doía no coração. Havia em si não mais um ser vivente, mas um eterno cadáver a rastejar e latejar, inconseqüente. Atirou-se pela rua, clamando ser socorrida. Mas o que lhe ofereceram foi desprezo:
- Descontrolada.

Apoiou silenciosamente os que sobem em telhados e gritam o amor profundo como ridículos oitocentistas - até mesmo pensou em se unir a alguns deles, caso os encontrasse. Mas a chuva não deixava ninguém ir ao telhado naquela madrugada eterna.

Baixou o nível: pediu a Deus. Já não havia o que desejar. O coração gemeu. Um gemido que inundava seu interior e não deixava espaço para qualquer outro pensamento.

Inspirada não sabe em quem, cantou uma música fúnebre. Já não havia esperança com a qual pudesse tentar pensar em ver uma luz qualquer... A chuva tapava qualquer brecha. A chuva que caía na rua. A chuva que caía por dentro.

Bebeu. Chorou mais que as nuvens. Ridícula. Ainda tentou entender porquê fez tudo errado. Porquê fez com que pensasse que ela não era ela e sim uma pessoa que não queria ser amada.

Agora, arrancando os cabelos enquanto vomita e chora diante do espelho, percebe a burrice que cometeu desde o primeiro dia que o viu. E não consegue esquecer e se perdoar. Talvez nunca consiga. Pensa nisso e lava o rosto. Bebe o último e decisivo gole.

Quando acorda no outro dia, o travesseiro molhado. Não sabe se é baba, choro ou a chuva. Só sabe uma coisa: é dor. E das mais doídas.

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